quarta-feira, 25 de março de 2015

SURDO, SURDO-MUDO OU DEFICIENTE AUDITIVO




Durante o percurso histórico dos surdos, percebemos o quanto este povo lutou e ainda luta para obter seu reconhecimento perante a sociedade. As marcas que ficaram registradas nas raízes do passado emocionam, como a luta pela própria sobrevivência de um povo que não tinha os mesmos direitos que o restante da população, eram marginalizados, vistos como incapazes de pensar, ou de realizar outras atividades simples que faziam parte do convívio social.

Ao estudarmos a história mais a fundo vemos atrocidades que eram cometidas contra pessoas que nasciam surdas. Na antiguidade, em algumas regiões os surdos eram lançados de penhascos sendo oferecidos a sacrifício aos Deuses, os romanos não os aceitavam dizendo que eram imperfeitos. Ou seja, os surdos eram tratados como seres que apresentavam algum tipo de déficit de Inteligência, eram considerados inválidos e, em muitos casos condenados a morte.

Com o passar do tempo foram surgindo pessoas que apresentavam um olhar diferente em relação a este pensamento muitas vezes desumano. De acordo com os registros de pesquisadores, na Idade Média em 700 d.C, John Beverley foi o primeiro a ensinar uma pessoa surda falar. Já o espanhol Pedro Pance de León, um monge beneditino fundou uma escola para surdos e desenvolveu o alfabeto manual, em outro momento, Juan Pablo Bonet um padre espanhol continuou o trabalho de León, ensinando os surdos a lerem e a falarem, utilizando o método oral. Já John Bulwer um médico britânico, defendia o uso de gestos entre os portadores de surdez. A mudança foi sendo aprofundada quando os nobres que tinham filhos surdos, preocupados com a exclusão dos mesmos diante da sociedade, passaram a procurar estes estudiosos para auxiliá-los. Era necessário nesta época que o surdo aprendesse a falar, ler, escrever, compreendesse a doutrina católica, pois, estes fatos implicavam no reconhecimento do surdo como um cidadão e por consequência no seu direito de receber a herança e título da família. Partindo desse pressuposto de que o surdo teria que falar para ser humanizado, outros defensores do mesmo pensamento foram surgindo.

Neste momento percebemos que a visão sobre o surdo começa a seguir para outro rumo e, por volta do século XV observamos que a Educação de Surdos era tratada como caso patológico passível de ser curada. Os médicos desta época passam a estudar este assunto mais a fundo, alguns profissionais estavam realmente engajados em descobrir uma cura, muitos interessados nesta causa tinha algum parente surdo.

A partir do séc. XX, os portadores de deficiências passam a ser vistos como cidadãos com direitos e deveres de participação na sociedade. No início acreditavam que a melhor forma de educar os surdos era pela oralização, já que a sociedade se comunica desta forma, neste período os gestos praticados pelos surdos para se comunicarem deveriam ser banidos. Muitos surdos que não tinham acesso aos “métodos educacionais” e não apresentavam um convívio aberto com familiares não aprendiam a se comunicar pela oralização, ou seja, não podiam falar. Durante o oralismo o surdo era tratado como Surdo-mudo, ou muitas vezes a forma mais comum era apenas Mudo.
Podemos observar que atualmente nossa sociedade carrega essa herança cultural, onde muitas pessoas utilizam a nomenclatura surdo-mudo ou apenas mudo de forma errônea, a maioria dos ouvintes desconhece a carga semântica que os termos, surdo-mudo, mudo e deficiente auditivo carregam. Para muitos ouvintes o uso da palavra surdo parece demonstrar preconceito, vemos que o sentimento de culpa e de discriminação determinou o termo conhecido como deficiente auditivo, sendo o mais correto a se referir às pessoas surdas.
A partir deste momento nos deparamos com este impasse, surdo, surdo-mudo ou deficiente Auditivo, qual é a melhor terminologia para nos reportarmos a este povo?

Podemos afirmar que o fato de uma pessoa ser surda não significa que ela seja muda, pois, de acordo com vários estudos de médicos e educadores, os mesmos chegaram a uma conclusão que o aparelho fonador do surdo assim como dos ouvintes estavam preservados, neste sentido o termo surdo-mudo não é aceitável. 
Mudo é todo o individuo que não faz uso de seu aparelho fonador para a fala ou qualquer outra manifestação vocal. Algumas pessoas podem apresentar mudez como um sintoma de sua alteração psíquica, ou ainda devido um câncer na laringe, onde é realizada uma cirurgia para a retirada do órgão responsável pela reprodução sonora da fala, porém, se tornarão mudos temporariamente, pois, podem reaprender a falar utilizando a voz esofágica (produzida pelo esôfago). Se o indivíduo não apresenta alterações psíquicas e nem orgânicas que possam interferir em sua fala, logo podemos afirmar que o surdo é capaz de produzir sonorização vocal, sendo possível balbuciar e, além disso, podem desenvolver a linguagem oral por meio de um processo terapêutico fonoaudiológico. Concluímos que não é correto dizer que todo surdo ou deficiente auditivo é mudo. Com a convivência com eles iremos perceber que podem falar e se manifestar através de sons da fala. É importante ressaltar que muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam a falar, não tiveram a oportunidade ou optaram por não serem oralizados.


Muitas pessoas também confundem surdez com deficiência auditiva, ou preferem utilizar apenas utilizar o segundo termo. Acreditam que a deficiência se refere à incapacidade, acham que a pessoa será dependente o resto de sua vida, não será capaz de conviver socialmente ou de ter hábitos “normais”. Entretanto, se utilizado sem o sentido discriminatório, a nomenclatura deficiente auditivo não está errada, visto que ela é um déficit adquirido, ou seja, é quando se nasce com uma audição perfeita e, devido a lesões ou doenças acaba acarretando na perda da audição. Nestas condições muitas pessoas já aprenderam a se comunicar oralmente. Em determinados casos pode-se recorrer ao uso de aparelhos auditivos ou a intervenções cirúrgicas, tudo depende do grau da deficiência auditiva, tendo como objetivo de minimizar ou corrigir o problema. 

Por sua vez, a surdez é de origem congênita, ou seja, o indivíduo nasce surdo, isto é, não se tem a capacidade de ouvir nenhum som. Nestes casos, surge certa dificuldade no desenvolvimento da comunicação, ou seja, na aquisição da linguagem, mas nada impede que o indivíduo possa se desenvolver socialmente. Podemos desta forma também utilizar o termo surdo, sem medo algum de achar que estamos sendo ofensivos. 

Sabemos de fato que a audição assim como o restante dos sentidos é de extrema importância para o nosso desenvolvimento cidadão, como um ser de direitos e deveres perante a sociedade. A audição é o primeiro sentido a ser apurado pela intermediação do convívio com o âmbito familiar, através dela passamos a conhecer o mundo que nos rodeia, ouvimos os sons que o mundo emite. É graças a ela que nós ouvintes nos comunicamos com o mundo, desenvolvemos nossa identidade, nossos sentimentos, passamos a compreender todas as relações que nos cercam, todos os vínculos sociais e expressamos de forma eficaz nossos desejos.

O surdo, mesmo que seja privado em um dos sentidos, é capaz de interagir e aprender, criar e se comunicar. Ele pode estabelecer esta conexão com o mundo através do desenvolvimento de seus outros sentidos, os olhos são para o surdo o que os ouvidos são para os ouvintes, a língua de sinais é uma forma de expressão corresponde a sua voz. Cabe aos educadores, estabelecerem possibilidades que irão contribuir com a inclusão do surdo, pois, o mundo não pertence exclusivamente aos ouvintes, todos possuem os mesmos direitos.  “o surdo é diferente, não deficiente”, as diferenças existem, e com elas devemos aprender que ninguém é melhor ou pior que o outro, somos todos iguais independentes de nossas características físicas ou culturais.


A IMPORTÂNCIA DA LIBRAS



No Brasil a Língua Brasileira de Sinais é reconhecida oficialmente através da Lei nº 10.436 de 24 de abril do ano de 2002, a partir deste momento foi possível realizar discussões pautadas nas necessidades da comunidade surda, sobretudo no que se refere à individualidade do surdo e também ao respeito que deve ser destinado a utilização da Libras nos ambientes sociais. Desde modo percebemos que o desenvolvimento das práticas educativas de ensino, devem estar atentas a educação de alunos surdos numa perspectiva em que realmente haja a inclusão do cidadão no meio social. Esta lei é extremamente importante, pois a partir dela a Libras é reconhecida como uma língua, consistindo em uma forma de comunicação e expressão legitimada que busca meio de uma linguagem própria, construir a identidade da comunidade surda que tem características e comportamentos próprios . Portanto, compreende-se que a libras não se trata apenas de mímicas e nem gestos, mas deve ser considerada como status de uma língua constituída com uma composição gramatical própria, podendo expressar conceitos concretos e abstratos dentro da realidade em que o surdo esta inserido.


A inclusão que temos por objetivo nos remete a reconhecer a importância da Libras no âmbito escolar, profissional e da sociedade em geral. Nesta perspectiva possível identificar as contribuições da lei 10.436/2002 viabilizando à importância da língua de sinais para o surdo, dentro do contexto social, profissional e educacional. Assim também é possível perceber que esta lei é de grande importância, pois traz parâmetros para o desenvolvimento no processo de aprendizagem do sujeito surdo. 

Depois de anos da edição desta lei, o Executivo federal editou o Decreto nº. 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentando os aspectos da Lei nº 10.436, dentre os quais podemos citar a obrigatoriedade da Libras como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior,  nos cursos de Fonoaudiologia, e constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional. Este decreto também especifica o uso e a difusão da Libras e da Língua Portuguesa para o acesso das pessoas surdas à educação, como deve ser a formação do professor e do instrutor de Libras, para que os mesmos possam atuar em cursos e eventos, ressalta que as instituições educacionais devem garantir às pessoas surdas acesso a comunicação, à informação, nos processos seletivos e na educação desde a educação infantil até a superior, dando-lhes condições de atuar na sociedade. O mesmo fala também da garantia do direito à saúde das pessoas surdas ou com deficiência auditiva, tais como ações de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde auditiva, realização de diagnósticos, tratamentos clínicos, acompanhamento médico, reabilitação, entre outros. E ainda, dispõe sobre o papel do poder público e das empresas concessionárias de serviço público que deverão capacitar uma parcela de seus funcionários para usar e interpretar Libras, proporcionando um atendimento diferenciado aos portadores de necessidades especiais, no caso, a surdez.

Assim sendo, muitos danos educacionais poderão ser evitados, dentre os quais, a evasão escolar que, em todos os níveis de ensino, tem se constituído numa cruel realidade. É possível transformar esta realidade, com uma proposta de trabalho sério e interativo, pois as pessoas surdas têm consciência de suas necessidades e lutam para que sejam atendidas suas especificidades a fim de que se torne facilitada sua comunicação com as pessoas com as quais contatam. A partir do Decreto, 5626 a educação de surdos pressupõe a coexistência de duas línguas no ambiente pedagógico: a língua de sinais e a língua portuguesa. A língua de sinais passa a ter prioridade no contexto escolar, em que o surdo está inserido, sendo então respeitada como fator de identificação desses educandos que precisam ter reconhecido seu direito de se comunicar. Assim, ao promover a aprendizagem do aluno surdo, conseguirá habilitá-lo para o acesso ao efetivo mundo do conhecimento, pautado no desenvolvimento de uma consciência crítica e cidadã, apto a enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.


Referente ao tema abordado, podemos observar que tanto a Lei nº 10.436/2002, como o Decreto 5.626/2005, trazem efetivas mudanças que nos levam a compreender e a respeitar a cultura surda, questionando nosso comportamento mediante as questões como estas mencionadas nesta pesquisa.
Deste modo, o objetivo geral deste trabalho será: compreender qual nomenclatura é mais apropriada ao se referir ao indivíduo surdo e, entender se de fato a surdez é um problema para ele.  Entretanto, para o alcance deste objetivo geral têm-se os seguintes objetivos específicos: Investigar a história do povo surdo, compreender as transformações ocorridas ao longo dos anos referentes ao respeito ao surdo, reconhecendo-lhe como um ser capaz, tendo sua individualidade e considerando a Libras como sua língua, sendo ela responsável pela sua comunicação e expressão. Além disso, aprenderemos a conceituar o que é a surdez desmitificando o fato de muitos acharem que todo surdo também é mudo, para entendermos da melhor forma possível as necessidades, os direitos e deveres do surdo.


COMUNIDADE SURDA / LIBRAS

1




A comunidade surda ainda enfrenta muitas barreiras e há pouco tempo que os seus direitos foram reconhecidos. A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) só foi reconhecida como a língua oficial dos surdos em 2002, ou seja, muito tarde, se pensarmos que pessoas surdas existem desde muito tempo e que passaram todo este tempo sem serem reconhecidos como surdos e com a necessidade de se adequarem à sociedade “ideal” ouvinte.  
Todos os anos, no dia 26 de setembro, é comemorado o Dia Nacional do Surdo, devido a inauguração do Instituto Nacional de Surdos Mudos do Rio de Janeiro em 1857, atualmente conhecido com INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos). Internacionalmente esse dia é comemorado em 30 de setembro.   




Essas comemorações refletem a luta da comunidade surda, ao longo de vários anos, pela garantia de seus direitos e liberdades e a conquista gradual do que podemos ver hoje, como: a modificação da nomenclatura, surdo-mudo apenas para surdo, já que é possível que o surdo fale, embora tal conceito permaneça na sociedade por falta de conhecimento ou preconceito; a diferenciação entre deficiente auditivo (apresenta grau parcial de surdez, apresentando uma porcentagem audível) e surdo (indivíduo que não apresenta nenhum grau de audição) e o estabelecimento da LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) como língua verdadeira, constituída por regras fonológicas, morfológicas, semânticas e pragmáticas.         

As barreiras encontradas pelos surdos ainda são muitas, mesmo existindo diversas leis que requeiram a igualdade deles em relação a todos os ouvintes e que preveja que adaptações devem ser feitas para que esses indivíduos se integrem à sociedade, principalmente, no âmbito educacional. E muitos órgãos, como o INES e a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos) têm sido criados para atender as necessidades desses indivíduos, uma vez que a prática tem sido bem diferente da teoria estabelecida pelo governo federal. O ato de incluir socialmente esses cidadãos vai muito além do que o previsto no papel: devem ser realizadas grandes transformações sociais e educacionais para que eles sejam plenamente aceitos. E é com essas transformações que a comunidade surda conseguirá atingir seus objetivos de terem atendidos os seus direitos mais básicos como transporte, educação, lazer e serviços, como qualquer outro cidadão.


O QUE É SURDEZ ?

A surdez ou hipoacusia é um termo genérico que serve para definir a perda auditiva. As causas de surdez devidas a  lesão central (cerebral) são muito raras, de forma que a grande maioria estão relacionadas com alterações do ouvido. A surdez de transmissão origina-se no ouvido externo ou médio. A surdez neurossensorial (que também se denomina surdez de percepção) originam-se essencialmente no ouvido interno. Em ambas as categorias é necessário distinguir causas genéticas e adquiridas.
Por fim, dependendo da gravidade classificam-se em surdez ligeira, moderada, severa e profunda. A Surdez total designa-se cofose.

A SURDEZ DE TRANSMISSÃO E A SURDEZ NEUROSSENSORIAL

surdez de transmissão está relacionada com alterações do ouvido externo (obstrução do canal auditivo externo : por ex. rolhão de cerúmen) ou do ouvido médio (otites, lesão dos ossículos,…).

O déficit, geralmente moderado, afeta sobretudo a percepção dos sons graves e pouco intensos: ouve-se com dificuldade ou não se ouve a voz baixa ou sussurrada.

surdez neurossensorial ou de percepção deve-se a disfunção do ouvido interno e geralmente é reflete a lesão das células ciliadas ou do nervo auditivo.
Raramente a causa está localizada nos centros auditivos do sistema nervoso central.

Nota : Uma surdez de transmissão e neurossensorial podem apresentar-se combinadas no mesmo ouvido, o que constitui uma surdez mista. Por ex. Uma patologia do ouvido médio como a otosclerose pode, Numa fase avançada, afetar o ouvido interno e provocar uma surdez mista.

A SURDEZ UNILATERAL E A SURDEZ BILATERAL
A hipoacusia pode afetar um só ouvido (surdez unilateral) ou os dois ouvidos de simétrica ( surdez bilateral simétrica) ou, sendo bilateral, ser mais importante dum lado que do outro (surdez bilateral assimétrica). As consequências sobre a percepção auditiva são diferentes: A surdez bilateral, obviamente é muito mais incapacitante que a unilateral.
 È a mesma situação da visão em que não se pode comparar o cego com a "mirolho".
A IDADE DE COMEÇO DA SURDEZ
Nos países ocidentais, a percentagem da população com perda auditiva é de 7 a 8 % (por ex. em França, os números oficiais de 1998 indicavam a presença de mais de 4 milhões de surdos.
A surdez pode desenvolver-se de múltiplas formas ao longo do tempo. Pode instalar-se de forma súbita ou progressiva e pode ser estável ou flutuante ao longo do tempo.
A idade de aparecimento da surdez é um aspecto muito importante. Nas crianças, as repercussões da surdez são muito diferentes se esta surgir antes ou depois da aquisição da linguagem. Por tanto, a idade de aparecimento da surdez é um aspecto muito relevante. Por outro lado uma surdez detectada pouco após a sua instalação tem melhores perspectivas que uma surdez antiga.
 Cada vez mais países estão desenvolvendo programas de detecção precoce de surdez nos recém nascidos e campanhas de prevenção para a restante população.

A SURDEZ GENÉTICA OU ADQUIRIDA
A surdez pode ser genética ou adquirida durante a vida pós-natal através duma doença (traumatismo acústico, infecção, ototóxicos, envelhecimento, etc.).Mas também pode ser devida a alterações adquiridas sobre uma predisposição genética. Os indivíduos são todos diferentes face à infecção ou o traumatismo acústico, etc.



                                                                                          Segundo a organização mundial de saúde em cada 1000 nascimentos diagnosticam-se 1 a 1,5 casos de surdez severa ou profunda, e este número eleva-se a 3% se forem incluídos casos de surdez moderada e aos 5% se forem incluídos todos os casos de hipoacusia.
 Três quartos dos casos de surdez são de causa genética (g). O outro quarto são adquiridas durante a gravidez ou no período perinatal.




A maioria dos casos de surdez são devidos a problemas do ouvido médio (OM) como a otite crónica ou a otite média com efusão ou seromucosa.
 A percentagem de casos de hipoacusia de causa genética reduz para aproximadamente 10%.
 O restante (azul) é causado por múltiplos fatores.


Os fatores que causam surdez no adulto estão a aumentar e representam, na atualidade, a grande maioria dos casos de surdez. As otites médias crônicas (OM) só são responsáveis por 20% dos casos, algo menos que a doença da Meniére (M), que também atinge o sistema vestibular (vertigem). O traumatismo acústico (t) causado pela sobre-exposição sonora, ocupa hoje o primeiro lugar dos fatores responsáveis pela surdez. Outros fatores completam este gráfico: principalmente os medicamentos ototóxicos e a surdez súbita. A surdez de origem genética (g) só é responsável por uma pequena percentagem do total, mas deve-se assinalar que em muitos casos (trauma acústico, ototoxicidade, Meniére…) é provável que existam componentes genéticos que acelerem a surdez adquirida.

SURDEZ NA VELHICE
Esta imagem mostra o nível auditivo médio das pessoas de 20, 40, 60 e 90 anos. È provável que as variações individuais se devam também a um componente genético.
É preciso ter em atenção que a presbiacusia não é independente da surdez adquirida. O envelhecimento "natural" pode estar acelerado como consequência de todas lesões acumuladas ao longo dos anos. Por exemplo a exposição excessiva a ruídos demasiado intensos ou traumáticos pode ser responsável por uma presbiacusia precoce: pode ter-se 49 ou 50 anos e ter ouvidos com 90 anos.
Clique sobre tecla para ver a aceleração da presbiacusia (que se denomina presbiacusia precoce), devida à exposição excessiva ao som.
Nota: Os graus de surdez e a sua investigação são apresentados noutro local deste site: na introdução ao capítulo "tratamentos atuais"



Quais os Tratamentos atuais ?

 O rastreio auditivo consiste na busca numa determinada população dos indivíduos que apresentam uma deficiência auditiva. Para isso, são utilizados diferentes testes que podem necessitar ou não da intervenção do sujeito. Esta investigação tem o objetivo de chegar rapidamente a um diagnóstico, isto é identificar uma doença. Seguidamente é possível realizar a reabilitação em função do déficit auditivo, da idade ou de outros problemas associados que o indivíduo apresente.

O RASTREIO EM FUNÇÃO DA IDADE

O rastreio das crianças em risco de apresentarem deficiências auditivas pode ser realizada de forma rápida, automática e indolor desde o nascimento.
Em determinados países esse rastreio é universal, sendo realizado a todos os recém nascidos.
Na escola, a medicina escolar está habilitada a detectar os problemas de audição nas suas consultas. Paralelamente, é importante que os pais, os educadores e os médicos que contatam com as crianças estejam atentos ás alterações do comportamento das crianças que possam apontar para deficiência auditiva e as enviem a uma consulta do ORL.

Nos adultos, os programas de rastreio devem ser iniciados entre os 45 e os 50 anos, no âmbito da medicina do trabalho, sobretudo em profissões de risco (trabalho em ambiente ruidoso, militares, etc.). Na população geral, deverá ser realizado um estudo auditivo no mesmo período etário, durante uma consulta de ORL. Nos adultos que apresentem problemas cognitivos esta avaliação é ainda mais importante, pois o tratamento dos déficit auditivos pode retardar a evolução das doenças neurológicas.

MEIOS UTILIZADOS PARA ESTUDAR A FUNÇÃO AUDITIVA
Uma vez detectado um indivíduo em risco de surdez, é necessário realizar testes mais especializados que permitam definir as características da surdez, se ela existir, e determinar a reabilitação mais adequada.
As otoemissões acústicas (OEA)
É o teste de rastreio mais utilizado nos recém-nascidos, sendo rápido e indolor. Uma sonda, do tamanho dum auricular, é colocada no ouvido do bebe e recolhe informações que refletem o estado de certas células sensitivas fundamentais à audição. Uma resposta negativa a este teste obriga à confirmação, utilizando outros testes, que permitam o diagnóstico da perda auditiva e da sua severidade.



Os potenciais evocados auditivos (PEA ou BER)
Colocam-se elétrodos na cabeça do paciente que permitem registrar a atividade elétrica do cérebro em resposta à estimulação do ouvido com sons. O estudo das características dessa atividade permite definir o estado da audição. Na imagem estão representados uns PEA normais (curva azul), e uns anormais (curva vermelha) que demonstram uma surdez.


A audiometria tonal
Nos adultos e em crianças com idade superior a 5 anos, é o teste mais utilizado na pesquisa dos limiares auditivo, ou seja na avaliação da geral da audição. Neste exame é necessário que o sujeito seja apto a compreender conselhos dados pelo audiologista para indicar se ouve ou não o som e ter a capacidade de se concentrar na pesquisa dos sons emitidos. Normalmente estudam-se as frequências entre 125Hz (graves) e 8000Hz (agudos).A audiometria tonal pode também ser utilizada como teste de rastreio em medicina escolar e do trabalho, pois permite identificar os indivíduos que podem apresentar surdez.
Nas crianças muito pequenas, pode ser utilizada no diagnóstico de surdez pesquisando relações reflexas dos bebes (pestanejos, paragem da sucção, sorriso, etc.) e reflexos de orientação (voltar os olhos ou a cabeça para a fonte sonora) em resposta a sons fortes e súbitos. Em crianças um pouco mais velhas, podem-se utilizar comportamentos condicionados, como pedir á criança que carregue num botão quando ouvir um som.



A audiometria vocal
Este exame permite avaliar a compreensão da palavra. Com esse objetivo, pede-se ao sujeito que repita corretamente palavras correntes e simples.
No gráfico ao lado, a curva azul representa o audiograma vocal de um indivíduo normal ouvinte. A curva vermelha mostra o audiograma de um indivíduo surdo; ele só começa a entender a partir dos 65 dB e nunca consegue atingir 100% de discriminação, mesmo que se aumente a intensidade, traduzindo dificuldades de compreensão importantes.


Nota: cada um destes testes avalia de forma diferente e complementar o estado da audição. Por este motivo, os médicos associam-nos para poder obter um diagnóstico o mais preciso possível.

OS GRAUS DE SURDEZ
Os testes de diagnóstico (dos quais os mais correntes acabamos de descrever) permitem caracterizar o tipo de surdez (ver " O que é uma surdez") e a sua gravidade ou grau.
Segundo o Comitê Internacional da Surdez, o grau de surdez corresponde à média aritmética dos limiares em dB, obtidos na audiometria tonal, nas frequências 500, 1000, 2000 e 4000Hz. Por exemplo, o grau de surdez do paciente cujos limiares são os representados no audiograma tonal apresentado acima é: (0+5+10+70)/4=21,25dB; ou seja, tem uma surdez ligeira.


·         Surdez ligeira : Compreende bem a palavra à intensidade vocal normal, mas em voz baixa ou à distancia já tem dificuldades. A maioria dos sons do quotidiano são ouvidos.
·         Surdez moderada : Compreende a palavra se aumentar a intensidade vocal. O indivíduo tem tendência a complementar a audição com a leitura labial. Os sons do quotidiano são ainda ouvidos.
·         Surdez severa : Compreende a palavra em voz forte e próximo da orelha. Só ouve os barulhos intensos.
·         Surdez profunda : A compreensão da palavra é impossível. Só se apercebe de barulhos muito intensos.
·         Surdez total: A perda média é de 120 dB. Nenhum som é percebido.
Note que uma surdez não se mede em percentagem mas sim em dB de perda auditiva!! Dizer que tem uma surdez de 50% não tem qualquer significado. Deve dizer-se: tenho uma perda de 50 dB. Por outro lado, é importante precisar que o grau de surdez não se limita a uma medida aritmética e que se deve ter em conta a incapacidade e o incomodo para o paciente e para os que o rodeiam.